Você sabe o que é a Doença de Crohn?
Podendo causar fortes dores no intestino e atingindo majoritariamente os jovens, a Doença de Crohn ainda é pouco conhecida e não tem cura, mas já existe tratamentos para amenizá-la
A Doença de Crohn é um processo inflamatório crônico que afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado e do intestino grosso, mas pode comprometer qualquer um dos segmentos do canal alimentar, desde a boca até o ânus. Os principais sintomas da DC são a diarreia, cólica abdominal, febre frequente, e às vezes, sangramento retal. O paciente pode apresentar também perda do apetite e peso. A causa da doença ainda não é conhecida, mas sabe-se que ela não é transmissível e que ocorrem alterações das defesas do corpo, desencadeando processos inflamatórios.
Até o final da década de 90, não existia nenhum exame específico para identificar a Doença de Crohn e os pacientes eram submetidos a radiografia com contraste e colonoscopia, que consiste num tubo iluminado introduzido pelo ânus. A solução para diagnosticar a doença com precisão e de forma indolor surgiu em 2001. Desenvolvida por técnicos israelenses, a cápsula endoscópica permite um exame com mais precisão para a identificação de enfermidades do aparelho digestório.
Em entrevista exclusiva ao portal www.saude.com.br, o Dr. Ronaldo B. Oliveira, falou sobre as causas, diagnósticos, sintomas e tratamentos da Doença de Crohn. Além disso, explicou o que é e como funciona a cápsula endoscópica, uma das mais novas e modernas tecnologias em termos de exames da área gastroenterologia e já disponível no Brasil.
O que é a Doença de Crohn?
Ronaldo B. Oliveira: É um processo inflamatório crônico capaz de afetar qualquer segmento do canal alimentar, desde a boca até o ânus, mas com nítida preferência pelo íleo terminal (segmento final do intestino fino).
Qual é a principal causa da DC?
Ronaldo B. Oliveira: A causa da doença ainda é indefinida. Existem hipóteses que procuram estabelecer relações do seu aparecimento com fatores ambientais, alimentares, imuno-genéticos, infecciosos e raciais, no entanto, sem explicarem integralmente todas as particularidades relevantes neste modelo de processo inflamatório crônico.
Quais são os sintomas da doença?
RBO: Os sintomas dependem da localização anatômica da Doença de Crohn, assim como de sua extensão. Devido a maior frequência do comprometimento intestinal os sintomas mais comuns são cólicas abdominais, diarréias, emagrecimento, suboclusão intestinal e formação de fístulas entre o intestino e alguns órgãos ou com a parede abdominal. No geral, os pacientes tendem a apresentar sintomas de atividade clínica (crises) da Doença de Crohn intercalados com períodos de acalmia.
A Doença de Crohn tem cura?
RBO: Não. O tratamento da DC tem como objetivo o alívio dos sintomas, o conforto do paciente e a resolução das complicações. O tratamento é eminentemente clínico enquanto for possível conviver com a doença e não houver complicações importantes. O tabagismo deve ser fortemente desencorajado, assim como a suspensão de anticoncepcionais em pacientes em idade fértil do sexo feminino deve ser recomendada. Nas complicações em que o tratamento clínico não resolver, poderá estar indicada à cirurgia. É importante relevar que novas concepções sobre a fisiopatologia da DC tiveram um enorme impacto sobre o desenvolvimento de novas terapias. Os fármacos anti-TNF (anticorpos) são, sem dúvida, muito potentes e mudaram consideravelmente a qualidade de vida de muitos pacientes. Existem algumas medidas gerais que devem ser tomadas durante o tratamento:
- Hospitalização: indicada em pacientes com indicação de cirurgia, manifestações graves da doença e complicações.
- Medicação: analgésicos, antitérmicos, anti diarréicos, sulfas, corticóides, quimioterápicos, antibióticos e mais recentemente anticorpos.
- Nutrição: a conduta geral é tentar mantê-la próxima do normal para a idade e sexo, só se restringindo os alimentos a que o paciente sentir intolerância.
Como é feito o diagnostico da doença? Para o exame é necessário a utilização de algum equipamento específico?
RBO: O diagnóstico é feito através da história clínica e exame físico do paciente, associados a exames, como endoscopia digestiva alta, colonoscopia, RX contrastado do trato digestivo, exames laboratoriais de sangue e mais recentemente a cápsula endoscópica.
Qual o diferencial da cápsula endoscópica?
RBO: É um método indolor e não precisa de anestesia. Além disso, ela fornece imagens de alta resolução exclusivas do intestino delgado e tem uma boa sensibilidade e especificidade. Trata-se de uma cápsula de vídeo do tamanho de uma pílula de vitamina, como um endoscópio, com câmera e fonte de iluminação própria. Depois de ingerida pelo paciente, a cápsula percorre o aparelho digestório e as imagens vão sendo enviadas para um gravador de informações colocado na cintura do paciente. Depois estas imagens são analisadas por um médico por meio de um vídeo-monitor.
A cápsula endoscópica também permite o exame das três porções do intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo). Locais até hoje de difícil visualização pelos exames convencionais.
Antes dela, fazíamos de diferentes formas. Para o intestino delgado existe um exame de enteroscopia, que é realizado no centro cirúrgico com anestesia geral e só consegue ver um metro e meio do intestino fino, ou seja, um exame incompleto. Também é realizado o RX contrastado do intestino delgado.
A cápsula endoscópica é indicada também para o diagnóstico de outras doenças?
RBO: Sim. A cápsula pode auxiliar no diagnóstico de outras doenças, como os sangramentos digestivos de origem obscura (que persiste ou recorre evidenciado através de anemia ferropriva, teste de sangue oculto positivo e/ou sangramentos visíveis, persistentes ou recorrentes, cuja investigação endoscópica primária foi negativa), poliposes, tumores intestinais benignos e malignos, diarréias crônicas e nas doenças inflamatórias (Síndrome do intestino irritável e Doença de Crohn).
Por que a Doença de Crohn atinge, em sua maior incidência, jovens entre 15 a 35 anos?
RBO: Ainda não se sabe. Não existem resultados significantes que expliquem esses números. Ocorre mais frequentemente entre parentes de primeiro grau dos portadores da DC. O índice de concordância entre gêmeos varia entre 50 e 60%.
O portador da doença de Crohn tem algum tipo de restrição no seu dia a dia?
RBO: Não há problemas quando o paciente não está em crise, mas durante as crises ele sofrerá restrições proporcionais aos seus sintomas. Em relação às dietas, medicamentos e medidas de comportamento foi comentado em resposta anterior.
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