O crescimento do trauma no mundo moderno
A história do trauma se confunde com a própria evolução da humanidade
Se no início dos séculos a violência foi decorrente do mecanismo de defesa do ser humano, nos dias atuais somaram-se fatores como grandes máquinas, velocidade, esportes radicais, condições sócio-econômicas insuficientes, uso de drogas legais e ilegais e o estresse que leva à perda da qualidade de decisão e raciocínio.
Para se ter uma ideia das mudanças ocorridas nos últimos tempos, no Rio, por exemplo, 80% das lesões perfurantes abdominais eram por arma branca e praticadas por indivíduos acima de 30 anos, isto na década de 50. Atualmente, aquele percentual está relacionado às armas de fogo e as lesões são praticadas por pessoas de idade acima de 16 anos.
Sabemos que, estatisticamente, 50% dos acidentados por trauma grave morrem antes do atendimento. Desta forma, a única saída para um atendimento adequado que possibilite não só salvar a vida, mas também proporcionar um retorno à vida normal sem sequelas, ou com o mínimo de restrição funcional, é a prevenção. Deste modo, não vamos entrar nos aspectos de condições ideais de socorro, métodos modernos de ressuscitação e sistemas integrados de atendimento e tratamento.
Os três principais itens mandatórios para a prevenção são: educação, leis específicas e tecnologia. Em relação à educação é fundamental incutir no cidadão, desde os bancos escolares, os cuidados com a saúde e os riscos e consequências que envolvem determinadas atividades no lar e fora dele. Deverá ser abordado repetida e insistentemente o perigo do uso de drogas, além de ser informado que os traumas graves ocorrem nas primeiras três décadas de vida. Deve-se formar conceitos de conduta que façam os estudantes sempre pensarem que não devem praticar atos que possam prejudicar terceiros, exemplificando de modo prático e objetivo (se possível de forma audiovisual) que determinadas atividades ou esportes poderão levar a sequelas que trarão prejuízos à qualidade de vida futura. Insistir no uso de equipamentos de segurança ao dirigir veículos também é fundamental.
Em relação às leis, infelizmente o ser humano só entende, na maioria das vezes, a restrição que levará ao castigo quando houver uma transgressão. Caberá ao Estado aplicar eficaz e honestamente o rigor da lei para que haja o respeito pelas instituições. Este rigor da lei deverá atingir não só o cidadão comum, mas também instituições que prestam serviços a terceiros, sendo estendido aos veículos automotores, que deverão ter todos os equipamentos que a tecnologia moderna exige para a segurança do motorista.
Finalmente, a área tecnológica contribuirá com sua evolução para possibilitar ao ser humano moderno utilizar máquinas e equipamentos mais seguros. Neste item incluem-se estradas construídas com a tecnologia que os veículos potentes necessitam para trafegar com segurança, sinalização e iluminação adequadas. As edificações, por sua vez, deverão possuir todas as medidas atuais para prevenção de incêndios.
A medicina do trabalho tem uma regulamentação bastante eficiente para proteger o trabalhador, principalmente aquele que atua em atividade de risco. Tem sido usada uma estratégia preventiva bastante eficiente para a redução do trauma em grupos de risco. Por exemplo, em levantamento feito nos EUA, verificou-se que adolescentes que dirigiam carros com todos os equipamentos funcionando, embora alcoolizados, salvaram-se de acidentes graves. Desta forma, milhares de vidas foram salvas e economizou-se cerca de 8 milhões de dólares por ano.
Resta um fator que convive e cresce com o homem desde meados do século passado, e continua presente neste início de século que é o estresse. Hoje sabe-se que muitas vezes um acidente se dá em razão da falta de tranquilidade que a vida atribulada impõe às pessoas. Se não pudermos evitar o estresse, é preferível adiar certas atividades que possam levar a riscos como, por exemplo, dirigir à noite. Para diminuir o estresse deverão ser estimuladas a prática de esportes aeróbicos, técnicas de alongamento e relaxamento, leituras que façam repensar a vida e, se possível, a meditação.
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