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André Trigueiro: "O meio ambiente começa no meio da gente." (Entrevista)

Nossa equipe conversou com o jornalista André Trigueiro, que abriu o jogo sobre as questões ambientais e de saúde pública

André Trigueiro é o âncora do Jornal das Dez, da canal Globo News, ao lado de Verushka Donato e Carlos Monforte, com comentários e participações de Franklin Martins, George Vidor, Cristiana Lobo, Teresa Cruvinel e Joyce Pascowitch.

Apesar do corre-corre existente na vida de um jornalista, André Trigueiro respondeu ao saude.com.br logo que a entrevista foi solicitada. O jornalista, sempre ligado a questões ambientais, alerta para a falta de informação da própria população. "A maioria dos brasileiros acha que meio ambiente é floresta, mico-leão dourado, baleia, e isso é ruim. Atrasa uma visão de cidadania ecológica que deveria balizar nossas ações no dia a dia", disse.

Sobre a onda de violência envolvendo jovens da classe média, Trigueiro considera ser um fenômeno global, que atinge diferentes países e faixas etárias. Entre vários aspectos que contribuem para a violência, ele ressalta a falta de espiritualidade e diz que é preciso reconectar o homem à sua essência. Confira a seguir a entrevista exclusiva do jornalista André Trigueiro, que nos passa uma visão tanto profissional quanto humana sobre os diferentes assuntos abordados.

 

André, como você vê a atual situação da saúde pública no Brasil?

André Trigueiro: A situação da saúde pública no Brasil continua carecendo de muitos cuidados, recursos e competência para gerenciar crises. Embora não seja um especialista, me parece que houve avanços importantes na área da medicina preventiva, no tratamento dos soropositivos, e no enfrentamento do lobby da indústria tabagista. Entretanto, este ainda é um país onde quem não tem plano de saúde sofre o constrangimento de ter que acordar cedo, pegar senha na fila e torcer para ser atendido por um médico que faça a anamnese* sem pressa ou descaso. Enfim, há muito o que fazer, a situação não é boa para a maioria da população, mas estamos caminhando.

*Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: 4 MED histórico que vai desde os sintomas iniciais até o momento da observação clínica, realizado com base nas lembranças do paciente.

 

Qual a importância do trabalho voluntário e das organizações não-governamentais no combate à dengue?

André Trigueiro: O combate à dengue tem justificado campanhas com um bom nível de adesão da mídia, o que considero fundamental para que se alcance os resultados desejados. A mídia tem feito a parte que lhe cabe. Quanto ao trabalho das ONGS e do serviço voluntário em geral, creio que sem esse apoio da sociedade civil organizada seria impossível dar conta dessa enorme responsabilidade que é conscientizar a população para a gravidade do problema, num intervalo de tempo tão curto.

 

Você não acha que o Estado está deixando de cumprir com suas obrigações por causa do crescimento do trabalho voluntário, das ONGs e das Igrejas?

André Trigueiro: Não acredito que haja acomodação do Estado por conta do crescimento do chamado Terceiro Setor. Não devemos reclamar a onipresença do Estado, reivindicar ações de um estado paternalista, assistencialista e soberano na execução de todas as ações sociais, que assuma todas as responsabilidades sozinho. A mim me parece que o governo ideal é aquele que apoia as iniciativas exemplares do Terceiro Setor sem fugir da responsabilidade que tem no gerenciamento global das ações. Exemplo: quando o Ministério da Saúde apoiou as ações da Pastoral da Criança, deu uma demonstração importante de que, às vezes, a sociedade é mais competente que o Estado para enfrentar crises na área de saúde. O governo não fugiu à responsabilidade que tem na redução dos índices de mortalidade, mas dividiu com a pastoral a enorme tarefa de salvar essas crianças da morte precoce. Isso não é acomodação. É agir em defesa da vida.

 

As ameaças ao meio ambiente foram ignoradas principalmente pelos países ricos na Rio +10, em Johannesburgo, e nada polui mais do que a indústria de um país subdesenvolvido. Qual o dever do Brasil e da sua população que luta cotidianamente pela sobrevivência?

André Trigueiro: Na condição de país detentor do maior estoque de água doce do planeta, da maior biodiversidade, da maior floresta tropical do mundo, o Brasil tem uma responsabilidade enorme nas Conferências de Meio Ambiente da ONU. Creio que estamos à altura dessa responsabilidade, tomando a dianteira, sendo proativos e propositivos. Defendemos nossos interesses com competência e isso é notório. O Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente possuem quadros técnicos que vem recebendo elogios da mídia especializada e até de outros países considerados progressistas. Nosso problema é a falta de informação da própria população quanto aos assuntos ambientais. O meio ambiente começa no meio da gente. Quando falamos de água limpa, saneamento, crescimento desordenado das cidades, trânsito caótico, agrotóxico nos alimentos, etc... estamos falando de meio ambiente. Isso se confunde com qualidade de vida, mas a maioria dos brasileiros não tem esse entendimento. Acha que meio ambiente é floresta, mico-leão dourado, baleia, etc... isso é ruim. Atrasa uma visão de cidadania ecológica que deveria balizar nossas ações no dia a dia.

 

Falando a respeito dessa onda de violência envolvendo jovens de classe média, você acredita que as drogas ou a bebida influenciaram? Até que ponto a educação recebida dos pais, da escola e da mídia também podem influenciar?

André Trigueiro: A violência é um fenômeno global, que atinge países ricos e pobres, diferentes etnias, religiões e faixas etárias. Essa é uma questão extremamente complexa que mereceria muitas linhas para que pudéssemos aqui construir uma opinião séria sobre o assunto. Há diversos aspectos que contribuem para essa onda de violência dos quais destacaríamos: o poder da indústria armamentista, o poder do tráfico de drogas, a falsa premissa de que os assuntos violentos na mídia despertam mais interesse do público, a falta de atenção dos pais na educação dos filhos e, por último, mas não menos importante: a falta de espiritualidade. É preciso reconectar o homem com a sua essência. A humanidade sente-se perdida toda vez que busca respostas fora de si. Temos dentro de nós um universo ainda pouco explorado e muitas vezes até ignorado.

 

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, vai dar prioridade ao Programa Fome Zero no seu primeiro ano de governo. Quais setores você acha que precisam ser tratados com urgência?

André Trigueiro: A fome é a urgência primeira. Emprestar dignidade ao programa Fome Zero, significa evitar o assistencialismo, oferecendo comida em troca de algo (cursos profissionalizantes, escola, trabalho, etc...). "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Se o governo Lula só conseguir resolver o problema da fome e mais nada, já terá feito muito. A fome nos envergonha e nos degrada. Nos acostumamos com algo que deveria nos incomodar muito mais.

 

Você acha que o brasileiro está cuidando mais da saúde ou está apenas preocupado com a estética?

André Trigueiro: O Brasil é o país mais vaidoso e preocupado com a estampa do mundo. Em 1994, foram feitas 5000 cirurgias estéticas corretivas no país. Em 2000, 49.000 foram feitas, um aumento de 880% em 6 anos. Somos vaidosos mas também estamos fumando menos, comendo melhor, sendo mais seletivos, e mais conscientes de que viver bem é viver com saúde. A consciência em relação à saúde também cresce. Mas a vaidade vai à frente disparada.

 

Tem cuidados especiais com sua saúde, como alimentação adequada ou prática de exercícios físicos?

André Trigueiro: Cuido da minha alimentação sem exageros ou dietas rigorosas. Com meu pai, aprendi o prazer de uma boa caminhada, sou um andarilho que curte andar e observar as belezas que cada pedaço de caminho contém. Isso me mantém saudável e de bem com a vida.

 

O dia a dia do jornalista é muito corrido. Tem tempo para cuidar da mente e do lado afetivo? O que faz?

André Trigueiro: Nós jornalistas somos, de fato, bastante propensos ao estresse. Cada um sabe de si e enfrenta essa carga de adrenalina do jeito que bem entender. Orar, meditar e namorar são dicas interessantes para qualquer um em qualquer situação de vida. O sofrimento intenso é tão estressante quanto à alegria intensa. É preciso experimentar o prazer do equilíbrio, a sensação de que tudo está no lugar certo, na hora certa. Como aquela música do Gil, "O melhor lugar do mundo é aqui e agora", esteja você feliz ou infeliz, cada coisa que se vive é muito importante durante a nossa passagem por esse planeta.

 

Qual a sua dica para se ter uma boa qualidade de vida?

André Trigueiro: Qualidade de vida para mim é entender a vida no seu sentido mais amplo, e deixar as coisas fluírem.

* Esta ferramenta não fornece aconselhamento médico. Destina-se apenas a fins informativos gerais, não pretende concluir nenhum diagnóstico e não aborda circunstâncias individuais. Não é um substituto do aconselhamento ou acompanhamento de profissionais da saúde. Alertamos que o diagnóstico e o tratamento não devem ser baseados neste site para tomar decisões sobre sua saúde. Jamais ignore o conselho médico profissional por algo que leu no www.saude.com.br. Se tiver uma emergência médica, ligue imediatamente para o seu médico.

Esta matéria pertence ao acervo do saude.com.br

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