Rosamaria Murtinho: "É muito difícil qualquer governo se mobilizar e fazer alguma coisa." (Entrevista)
A atriz entrega prêmio para o projeto Amigos da Escola e concede entrevista exclusiva ao portal
Sempre engajada em vários projetos sociais e políticos, a atriz Rosamaria Murtinho interrompeu as gravações de "Chocolate com pimenta" (de Walcyr Carrasco), novela das seis da TV Globo, para premiar, pela segunda vez, duas escolas do Rio de Janeiro que fazem parte do projeto Amigos da Escola: a Escola Municipal Alina de Britto e a Estadual Pedro Álvares Cabral. A primeira participação da atriz, em 2001, foi no Centro Educacional do Sesi, em Santos.
No caminho entre o Projac e a boate Nuth Lounge, onde houve a entrega dos prêmios, Rosamaria falou com a equipe do portal saude.com.br sobre política, mobilização da sociedade em ações que cabem ao governo, teatro e saúde, entre outros assuntos. "É muito difícil qualquer governo se mobilizar e fazer alguma coisa. A sociedade tem que se mobilizar em torno de projetos sociais, mas tem que aprender a cobrar, também, os seus direitos", disse a atriz.
Rosamaria estava estrelando o musical Isaurinha Garcia - Personalíssima no teatro Villa Lobos, no Rio de Janeiro, que retorna em março, desta vez no teatro João Caetano. Em janeiro, a peça estará em cartaz no Teatro das Artes de São Paulo, em uma temporada popular. O espetáculo, que refaz a trajetória da rainha do rádio paulista que se consagrou como uma das maiores cantoras nas décadas de 40 e 50, foi idealizado pelo ator Rick Garcia, 23 anos, neto de Isaurinha.
A atriz deixou sua marca em novelas como o "Primeiro Amor", "Pai Herói", "A Próxima Vítima", "Salsa e Merengue", "Vila Madalena" e "Estrela Guia". Nos palcos, protagonizou espetáculos de grande sucesso de público e crítica, como "Preço", de Arthur Miller, "A Fila", de Israel Horowitz, "Direita Volver", de Lauro César Muniz, "A Partilha", de Miguel Falabella, entre outros.
O que acha da iniciativa do Amigos da Escola de contribuir com a educação pública, por meio da mobilização da sociedade?
Rosamaria Murtinho: O nome já diz: Amigos da Escola. Não só professores, mas a sociedade civil, que somos nós, nos mobilizarmos. É muito difícil qualquer governo se mobilizar e fazer alguma coisa. Nós sabemos que muitos políticos estão voltados para os interesses pessoais e que se fazem algo pela população, pode contar que tem um ganho político de alguma forma. Na minha opinião, essa iniciativa do Amigos de mobilizar a sociedade não deve ser só para o assistencialismo, mas para a cobrança e para obrigar a caçar a criminalidade. Temos que cobrar os nossos direitos porque pagamos impostos e não recebemos um benefício desse imposto que a gente paga.
Você não acha que o Estado está deixando de cumprir com suas obrigações por causa do crescimento do trabalho voluntário e das organizações não-governamentais?
Rosamaria Murtinho: Está, sim. Lemos nos jornais que o Estado está tirando dinheiro do social para fazer no Rio de Janeiro, por exemplo, essa bobagem de comida a R$ 1. O povo não quer comida a R$ 1, mesmo porque a comida no Brasil é muito barata. Ele quer emprego, um trabalho para comprar a comida e fazer na sua casa. As pessoas querem, também, segurança, saúde e educação para as crianças. O resto, piscinão e cabeleireiro a R$ 1, são para jogar para a galeria, que hoje se chama galera, e para enganar as pessoas. Mais cedo ou mais tarde, elas vão descobrir quem realmente está fazendo alguma coisa para melhorar a sociedade. Estamos acabando o ano e 10 milhões de empregos foram prometidos e esses 2,5 milhões que não vieram, vão ser, no ano que vem, 5 milhões de empregos. Isso é muito sério e a gente precisa aprender a cobrar, e não ter medo porque eles, os políticos, não têm medo de fazer as bobagens que fazem.
Na sua opinião, o "Domingo a R$ 1", da prefeitura (RJ), prejudica as produções teatrais?
Rosamaria Murtinho: Eu acho que a prefeitura deveria completar o preço, porque com a bilheteria, não dá para pagar os atores, as camareiras, os músicos, os técnicos de som e iluminação, contrarregra, etc. O "Domingo a R$ 1" é bom, sim, mas tem que ser subsidiado. Basta ver essa campanha "Teatro para todos", em dezembro, que já deixou muitas peças esgotadas. E parece que a prefeitura vai completar, subsidiar o ingresso que custa R$ 1.
Além da vitalidade e jovialidade que possui, você passa uma energia positiva quando está em cena. Como explica isso?
Rosamaria Murtinho: Eu nem sei (risos). Deve ser por causa da peça, Isaurinha Garcia - Personalíssima, em que eu faço uma personagem de 15 a 75 anos de idade. Tem uma cena em que o pai bate nela, eu caio no chão e me levanto rapidamente. Uma pessoa virou para mim e disse "mas como você tem essa agilidade?". Porque eu sou uma senhora, tenho mais de 60 anos. Eu nem tinha pensado nisso, não me perguntei, antes da cena, "será que eu vou me levantar rápido". Eu mesma faço isso com tanta naturalidade. Talvez porque a vida inteira eu nadei, fiz dança, sapateado, musculação e estou há 8 anos sem fazer tudo isso, só sapateado que fiz no ano passado.
Muitas vezes, você está gravando novela e ensaiando peça ao mesmo tempo. Como concilia as vidas familiar e profissional?
Rosamaria Murtinho: Graças a Deus, agora, eu não tenho filho pequeno. Então eu posso me dedicar a mim e ao meu trabalho, o que era difícil quando os meninos eram pequenos. Até vizinho já ficou cuidando das minhas crianças, quando eu ia gravar. Mas a gente dá um jeito, trabalho é assim mesmo. As pessoas que dizem que não arranjam tempo para fazer uma ginástica é porque não querem mesmo. No meu caso, não estou fazendo por preguiça.
Como você costuma cuidar da sua saúde? Tem alguma alimentação especial, pratica exercícios, faz exames preventivos?
Rosamaria Murtinho: Estou fazendo pilates. Eu faço check-up uma vez por ano, mas isso não quer dizer que estou livre de qualquer doença. Faço os exames anuais de mulher. Quanto à alimentação, há muito tempo não coloco uma fritura na boca, a não ser de vez em quando, quando vou comer fora, um camarão frito, mas na minha casa nem pensar. Eu compro carne de soja e faço um picadinho. Carne vermelha só uma vez por semana, gosto muito de peixe e não ligo muito para frango. Aliás, eu até gosto, mas colocam muito hormônio e eu procuro comer todos os legumes e as verduras orgânicos. Hoje, há uma expectativa de vida maior e é legal cuidar da saúde.
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