Fernanda Young: "Parei e não sinto a menor falta." (Entrevista 2004)
Fernanda Maria Young de Carvalho Machado, roteirista, escritora, apresentadora, atriz, autora e diretora brasileira, concede entrevista ao Saude e conta um pouco mais sobre sua vida e como venceu o vício do cigarro
O título acima nada tem a ver com a sua saída do programa Saia Justa (GNT); a frase diz respeito a sua decisão de largar o cigarro. Há tempos estávamos atrás dessa entrevista com a escritora Fernanda Young, mas foi quando anunciou que não fumava mais que, de fato, a ideia se concretizou. Fumante há 20 anos, Fernanda percebeu que fumar era uma fraqueza e foi se vendo em frente ao espelho, fumando, que se perguntou quais foram os motivos que a levaram ao fumo. “Essa busca foi feita na análise e quando descobri o que eu queria ‘preencher’ com a fumaça, percebi que isso era uma mentira e deixei de sentir necessidade de fumar”, revelou.
Fernanda tem duas filhas, Estela May e Cecília Madonna, e é casada com o roteirista Alexandre Machado. Ao lado do marido, assinou roteiros de sucessos globais como Os Normais e A Comédia da Vida Privada, e no cinema, o do filme Bossa Nova, dirigido por Bruno Barreto (Brasil, 2000). No ano passado, a escritora lançou o seu sexto romance, Aritmética (Ed. Ediouro), além de estrear a série de TV, Os Aspones, na TV Globo.
Após cursar Letras na Universidade Federal Fluminense, Jornalismo na Hélio Alonso e Rádio e Televisão na FAAP, todos os cursos incompletos, Fernanda desistiu da vida universitária e se dedicou aos livros, segundo ela, a melhor coisa do mundo. Seu romance de estréia foi Vergonha dos Pés, que recebeu elogios do colunista Arnaldo Jabor e do publicitário Washington Olivetto, entre outras personalidades. “Batendo os olhos no seu livro Vergonha dos pés, sente-se a nervosidade da frase curta, da palavra correta e da ‘verve’ das idéias jovens casadas a uma prosa econômica. Rápida e alegre, auto-irônica e corajosa, Fernanda Young vai longe”, disse Jabor. Já Olivetto, disse que apesar de jovem na idade e Young no sobrenome, Fernanda é madura no que escreve.
Algumas vezes irônica, mas sempre com uma pitada de humor ao abordar questões banais do cotidiano, seguiu escrevendo e conquistando um número cada vez maior de fãs e leitores. Depois do primeiro livro, vieram: A Sombra das Vossas Asas, Carta para Alguém Bem Perto, As Pessoas dos Livros e O Efeito Urano, todos publicados pela editora Objetiva. Este último, pertence à coleção “Cinco Dedos de Prosa”, dedicado ao dedo médio.
Hoje, com 34 anos, mãe de duas filhas e de seis romances, Fernanda está para lançar a nova série global “Minha Nada Mole Vida” (título provisório), para o ator Luiz Fernando Guimarães, e um livro sobre o amor, como ela mesma adianta na entrevista exclusiva que concedeu ao Portal Saude.
O dia 8 de março tem um significado especial para você?
FY: Sim. Eu amo as mulheres. Sou uma mulher, tenho muitas mulheres ao meu redor. E isso é o ano inteiro, mas no dia 8 costumo dar palestras e dar beijinhos nas minhas amigas e filhas, além de ganhar presente. Eu adoro dar e ganhar presentes.
Milan Kundera disse, em A insustentável leveza do ser, que os personagens de seu romance são suas próprias possibilidades que não foram realizadas. É o que o faz amá-los todos e temê-los ao mesmo tempo. Com você ocorre o mesmo? Como é o processo de criação de seus personagens?
FY: Acho que alguns dos meus personagens se parecem comigo. Como fui, sou ou poderia ter sido, caso algumas coisas não tivessem acontecido e mudado o rumo da história. Eu não me simpatizo com todos os meus personagens. Mas os compreendo. Sei porque eles chegaram ao limite. Para criar um personagem preciso oferecer motivos para que ele faça tudo o que é descrito no livro. Somente dessa forma o leitor irá acreditar em sua humanidade. Todos eles são bem idiotas, na maioria das vezes, como todo mundo.
Escrever é um desabafo?
FY: Sim. Também é um pedido de desculpa, uma vingança, uma declaração de amor e uma carta de suicídio.
Você tem algum ritual para escrever?
FY: Gosto de escrever após as 16:00. Sempre de banho tomado e arrumada. Simples, mas digna. Isso nos primeiros meses; no final quase sempre estou um caco.
Já houve o caso, no momento em que está desenvolvendo a história, de você ter uma nova ideia e partir para um novo tema?
FY: Só no início. Nunca sei como será exatamente o fim, mas a trama, no todo, eu sempre sigo até terminar. Os meus temas são sutis. Na minha cabeça um livro cabe numa frase, mas é difícil explicar. Da cabeça para o papel surge todo o resto. Quando fica pronto, quase sempre tenho problemas para fazer um resumo. Aquela frase, a inicial, se fragmenta. O jogo é reencontrá-la.
Depois de Aritmética, pode-se dizer que você está se tornando uma especialista em discutir a relação homem/mulher?
FY: Homem e mulher, mulher e mulher, homem e homem, mulher e criança, criança e homem. Acho que também já falei sobre cachorros.
Assim como Madonna, pretende escrever para o público infantil?
FY: Não. Eu seria incapaz.
Tem algum projeto novo em andamento?
FY: Tenho. Um livro sobre o amor. Um tratado, quase filosófico, sobre a loucura do amor. Usando o formato literário, pois é o único meio que posso me permitir filosofar. São poemas, contos, coisas que guardo comigo faz anos. Todas as minhas fases. Será ótimo tirar isso da minha gaveta.
O que é mais prazeroso para você, ler um livro ou escrever um livro?
FY: Ler. Ler um livro meu é prazeroso. Ler qualquer livro é a melhor coisa do mundo. Eu sou viciada em livro.
Qual é o seu livro de cabeceira?
FY: O dicionário.
Depois de “Os Normais” e “Bossa Nova”, pretende continuar escrevendo roteiros para cinema?
FY: Eu e o Alexandre temos um roteiro pronto. A adaptação do meu segundo romance, A Sombra das Vossas Asas. Gosto de cinema, mas acho um processo longo. Coisas longas são boas quando o projeto é só seu. Um romance é um projeto que tolero a demora. Cinema todo mundo se mete. É legal se dá certo, mas pode se transformar num aluguel eterno.
Na época do programa Saia Justa (GNT), você declarou que tinha parado de fumar. O que a levou a perceber que o cigarro é um problema gravíssimo de saúde?
FY: Comecei aos 13 anos e parei com 34. Sei bem o que o cigarro faz, mas poderia aguardar coisas piores para decidir parar. Porém nunca fumei em frente às minhas filhas, e passei a fumar, quando em casa, no banheiro, olhando-me no espelho. Essa imagem vista repetidas vezes me levou a uma profunda indagação dos motivos que me levaram ao fumo. Essa busca foi feita na análise e quando descobri o que eu queria "preencher" com a fumaça, percebi que isso era uma mentira e deixei de sentir necessidade de fumar. Parei e não sinto a menor falta.
Você acha que os pais que fumam em casa prejudicam os filhos?
FY: Sim. Fumar é um ato de fraqueza. Como você pode passar segurança para as crianças com um cigarro entre os dedos? Afora o cheiro e a inevitável contaminação passiva.
Quais as mudanças que você sentiu, assim que parou de fumar?
FY: Primeiro eu tive muita tosse, porque quando a pessoa pára, ela realiza que vive num processo inflamatório constante, mas está num estado, digamos, controlado. Porém eu tive consciência de que o meu corpo teria que se vingar um pouco de mim. Colocar a porcaria para fora. A minha pele ficou ruim. Emocionalmente eu estava segura, pois como já disse, eu não via mais sentido em mentir para mim mesma. Não fiquei nervosa. Nada. É como uma criança que descobre que fogos de artifício não são o fim do mundo e por isso pára de sentir medo. Descobri que o cigarro me enganava e parei de fumar. O cigarro também emburrece. Você se ocupa em fumar, quando poderia fazer coisas mais interessantes. Fumar gasta tempo.
Qual o maior cuidado que você tem com a saúde?
FY: Evito beber. Hoje em dia eu bebo muito pouco, porque não posso cuidar de crianças e trabalhar se estiver com ressaca. Faço ginástica, mas isso eu adoro. Tenho comido melhor. Nunca gostei de frutas e legumes, mas tenho melhorado o meu paladar e aprendido a ter prazeres alimentares mais saudáveis. E não como bicho, porque acho uma sacanagem a maneira como eles são mortos. Essa foi uma decisão que fez bem a minha alma. Mas o meu maior cuidado é a meditação.
Você se acha vaidosa?
FY: Sou cuidadosa.
Como concilia seus trabalhos com a dedicação às suas filhas e à sua casa?
FY: Disciplina. Eu faço os meus horários e os delas, e todo mundo tem que cumprir direitinho.
O que deixa Fernanda Young de saia justa?
FY: Aguardar um telefonema.
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