Climatério: uma fase de mistérios e mudanças
Conhecido como o período de transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva da mulher, o climatério pode trazer sintomas intensos
Maria das Graças Silva, de 52 anos, não sabe com exatidão o dia em que começaram as mudanças. "Eu lembro apenas que passei a sentir uma falta de ar, um calor bem diferente do normal e um estresse horrível. Isso durou um tempo, até que aos 44 anos, por aí, eu parei de menstruar. Fui ao médico, mas não precisei tomar remédio", conta a empresária. A experiência não foi sinal de uma doença e, sim, um período natural na vida das mulheres, chamado de climatério.
Trata-se da mudança da fase reprodutiva para a não reprodutiva. A Organização das Nações Unidas (ONU) denomina esse período como perimenopausa. Em 2015, uma pesquisa do IBGE revelou que 27,9% das brasileiras – o equivalente a 29 milhões - estavam a experimentar esse momento compreendido entre o climatério e a menopausa (última menstruação).
A ginecologista Roseane de Oliveira Correa disse não haver uma idade certa para o início da transformação. "O climatério, em geral, começa depois dos 40 anos. Essa fase é marcada por sintomas bem semelhantes aos da tensão pré-menstrual, a famosa TPM. No entanto, são bem mais intensos. São enxaquecas, sensações de inchaço no corpo, cansaço, irritação e muito calor, aparentemente sem motivo. Essa lista pode perdurar por alguns anos até que os ciclos se tornem irregulares e, por fim, ocorra a última menstruação. Importante ressaltar que a duração e intensidade variam de pessoa para pessoa", detalha.
Todas essas alterações fisiológicas têm um motivo. O homem, durante toda a vida, libera inúmeros espermatozoides, a cada ejaculação. Com o sexo oposto, o processo é totalmente diferente. O organismo feminino produz um óvulo por mês. E essa "fabricação" exige um esforço que não se imagina. A mulher nasce com, aproximadamente, dois milhões de folículos (células germinativas). Todos os meses eles se "organizam", digamos assim, para produzir o óvulo. Os que não conseguem cumprir a tarefa morrem. E aí, a queda no número é irreversível. Só para se ter uma ideia, ao atingir a puberdade, a adolescente já perdeu cerca 1,2 milhão, restando 400 mil células germinativas.
Os folículos produzem os hormônios sexuais, estrogênio e progesterona. Resultado: quanto menos folículos, menor é a concentração dessas substâncias. E não poderia ser diferente. O corpo reage a essa queda por meio dos sintomas citados anteriormente e outros, como excesso de suor, incontinência urinária, secura vaginal, redução do desejo sexual e enfraquecimento dos pelos pubianos.
Pesquisas indicam que a cada quatro mulheres, três enfrentam esses desconfortos durante o climatério. A Dra. Roseane afirma que as alterações não são apenas físicas. "Quando a gente fala em queda na produção de estrogênio, consequentemente, fala-se também na alteração dos níveis de substâncias encontradas em áreas do sistema nervoso central. Com isso, nesse período, a mulher pode ter depressão, alteração de humor e ficar mais sensível", ressalta a ginecologista.
O fato de ser um processo natural não significa que preocupação e cuidado são dispensáveis, muito pelo contrário. O tema tem sido discutido por profissionais da área, que defendem um diagnóstico precoce, acompanhamento médico e, sempre que preciso, um tratamento para evitar problemas futuros.
"Esses hormônios são muito importantes para o organismo. Quando eles aparecem em menor quantidade no corpo, a pessoa fica sujeita a ter doenças do coração, osteoporose (perda grave de massa óssea) e até câncer. Diante disso, procurar um especialista é o melhor a ser feito. Ele vai orientar sobre uma possível reposição hormonal e evitar maiores danos", alerta a profissional.
A preocupação da Dra. Roseane torna-se ainda mais coerente diante do aumento da expectativa de vida. "A mulher hoje vive, em média, mais de 78 anos. Isso significa que, ao contrário do passado, depois da menopausa ela ainda tem muito tempo pela frente e precisa desfrutar disso com mais qualidade", conclui a médica.
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