A importância da alimentação e dos cuidados com a saúde mental no futebol
No futebol, a dedicação vai muito além do campo. Jogadores precisam se privar de certas situações e estarem atentos ao seu corpo para ter um bom desempenho nos jogos
Muito se escuta a respeito do glamour e da fama que vêm com a profissão de jogador de futebol, mas, o que não se sabe, e quase nunca se destaca, é a dura rotina de dedicação e de privações a que eles são submetidos.
O dia-a-dia resume-se em geral, em treinar muito, viajar e jogar. “Costuma ser corrido e movimentado. Geralmente jogamos duas vezes em uma semana, e em vários estados do país. Temos dias de treinos em um período e também temos treinos integrais. Além disso, costumamos ter concentração um dia antes dos jogos, quando ficamos em hotéis.”, conta Leonardo Moura, lateral-direito do Flamengo.
Para um atleta se sentir bem com seu corpo, ele precisa ter consciência que a alimentação é muito importante. Algumas modalidades podem exigir do esportista um consumo de 7.000 calorias diárias, sendo que a média calórica para homens e mulheres ativos é de 2.500 calorias. “Existem restrições também, principalmente relacionadas ao horário das refeições. Por exemplo, se o treino ou a competição é sempre de manhã é necessário acordar mais cedo para se alimentar. Se é de noite, é preciso alimentar-se de três a quatro horas antes.”, explica Mildre Freitas de Souza, nutricionista do Vasco.
Proteínas e carboidratos são essenciais na dieta de atletas e a falta de uma nutrição adequada pode acarretar em problemas como cãibras e dores musculares. O jogador profissional precisa buscar uma vida sempre regrada, porque seu instrumento de trabalho é o corpo. Por isso, tem que se preocupar com todos os aspectos da saúde e, principalmente, com o sono. “Procuro comer alimentos saudáveis, não gosto de bebida alcoólica e tento levar uma vida tranquila. Uma das coisas que, infelizmente, não posso participar é de alguns momentos da vida das minhas filhas. Às vezes, tem aquelas festinhas da escola que acontecem aos sábados, por exemplo, que não consigo ir porque estou concentrado ou viajando.", diz o jogador.
Nem todo mundo lida bem com a questão das privações e, para isso, é importante que os clubes ofereçam o acompanhamento de perto de psicólogos, profissional tão importante em uma comissão técnica quanto o preparador físico, o nutricionista, o fisioterapeuta e todos mais que a compõem. “Ele vai ajudar na parte psicológica, que tanto influencia nas questões técnicas. Afinal, de que adianta um atleta ir bem na parte tática, técnica e física se não encontra no lado emocional o respaldo para os seus movimentos?”, fala Paulo Ribeiro, psicólogo do Flamengo.
Nos clubes, há um acompanhamento direto quando solicitado ou mesmo quando o psicólogo observa que algum comportamento está atrapalhando a performance do jogador. Vale ressaltar que o psicólogo do esporte não faz com os atletas um trabalho de consultório. Cuida somente do aperfeiçoamento dos recursos emocionais que o jogador necessita para sua vida profissional.
- Cuidamos dos atletas que têm entrada constante no departamento médico e na fisioterapia, ajudando na recuperação de lesões. Também tratamos do time como um todo no que diz respeito ao entrosamento, ao trabalho em grupo, ao respeito às diferenças e todo o resto que faz parte dos problemas que existem e sempre vão haver na convivência humana. Sem esquecer que ainda cuidamos da comunicação, nem sempre bem sucedida, entre jogadores e treinador. Como podemos ver, nosso trabalho está envolvido em todos os setores da equipe. - acrescenta o psicólogo.
De acordo com o especialista, os principais problemas emocionais que os atletas têm são questões de convivência interna, problemas familiares e de não estar bem em determinado jogo ou fase da competição. Sem falar nas questões dos atletas reservas que lutam para manter sua motivação em um estado perto do ótimo para quando exigidos.
Mas, se bem orientados, os atletas passam por esses problemas com o menor nível de prejuízo possível e superam bem a questão das privações por conta da dura rotina. "Quem escolhe jogar bola sabe de tudo isso. Na verdade, jogar é o que sei fazer melhor e é o que me dá prazer. O esporte faz parte da minha vida desde a infância e nem posso dizer que teria esse fator psicológico difícil de lidar porque a vida sempre foi assim. É a opção de cada um e sou muito feliz que consegui alcançar esse objetivo na minha vida.", comenta Leonardo Moura.
Mesmo assim, vemos muitos jogadores envolvidos em escândalos ou até crimes, principalmente nos últimos tempos. “Não podemos dizer que somente atletas se envolvem nesses problemas. Penso que todos de uma forma geral que alcançam a fama repentina podem ser susceptíveis a essas questões. O problema disso está na raiz dos fatos, ou seja, uma família mal estruturada, pessoas sem limites e idolatria por parte de alguns. Isso pode se transformar em um monstro na cabeça de uma pessoa qualquer e não somente na de jogadores de futebol.”, esclarece o psicólogo.
Se para quem está aqui no Brasil a realidade é essa, lá fora é um pouco diferente. “A rotina é bem diferente e, de certa forma, menos intensa. Desde que estou jogando fora do Brasil, consigo ficar mais tempo em casa. As competições que disputo costumam ser nos fins de semana e os meus treinos são apenas na parte da manhã. Assim, consigo ficar mais com a minha família e acompanhar mais o dia-a-dia das minhas filhas.”, diz o zagueiro Rodolfo, do Lokomotiv Moscou, da Rússia.
Mas, nem tudo são flores, é claro que existe uma série de dificuldades de adaptação. “O idioma é a primeira barreira. Morei na Ucrânia e agora estou na Rússia. Atualmente falo russo fluentemente, mas, no início, foi bem difícil. Mas, os clubes costumam deixar um intérprete à disposição para ajudar no início. O clima, às vezes, também é difícil, principalmente no inverno, com a neve.", conta o jogador.
Quanto à questão de ficar longe de casa, o zagueiro diz que na verdade, desde cedo, o jogador de futebol se acostuma a conviver com a saudade. “Na minha adolescência, deixei a cidade de Bertioga, perto de Santos, para correr atrás do meu sonho que era ser jogador, fui morar na concentração dos clubes. Foi sempre assim. Acho que esse sacrifício de morar na Europa vale a pena porque é a forma que posso ajudar a minha família. Moro com minha esposa e minhas filhas em Moscou e sinto saudades dos meus pais, meu irmão, meus familiares e amigos.", fala.
Rodolfo ressalta que quem pensa que se tornar jogador de futebol profissional é fácil, se engana. “Para ser atleta é preciso ter disciplina, disposição, força de vontade. Saber que terá que abrir mão de algumas coisas.”, diz. Leonardo Moura acrescenta que as privações acabam se tornando coisas normais, até porque quando realizadas, há outras compensações que podem minimizar essas questões. “Além disso, a carreira de atleta não é tão longa e, por isso, quem se dedicar poderá ter uma vida tranquila quando encerrar a carreira.", diz.
Sendo um atleta ou não, o psicólogo Paulo Ribeiro frisa que a premissa "mente sã, corpo são" é sempre a melhor opção para todos. “As duas coisas realmente se completam? Não tenha dúvida disso. É impossível separar a mente do corpo, elas estão interligadas e precisam uma da outra. Uma mente positiva só vai atrair situações positivas para seu corpo que é seu instrumento de trabalho.”, conclui.
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