Aparelhos ortodônticos e o poder de um belo sorriso
O aparelho dentário, que já foi odiado pelos jovens, agora é visto como símbolo de estilo
Seja por modismo ou devido à maior conscientização da população, o número de adeptos do tratamento com aparelhos dentários cresce cada vez mais. Muitos fatores podem ter contribuído para o aumento da procura, como: mais especialistas no mercado, diminuição dos custos do tratamento, melhora no aspecto estético dos aparelhos e aparecimento de novas técnicas capazes de ajudar em casos que anteriormente não teriam jeito.
"Não se trata de moda. Trata-se de saúde. Hoje, todos buscam saúde e melhor qualidade de vida e o tratamento ortodôntico pode oferecer ambos quando houver uma indicação correta, um bom planejamento e uma execução adequada", assegura Ricardo Cruz, presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial.
Corrigir os dentes definitivamente não é algo só estético. "De maneira geral, as pessoas têm o hábito de separar o que é estético do que é funcional, para justificar ou não um tratamento. Até os próprios planos de saúde e convênios usam esse argumento para eventualmente negar atendimento a um paciente", conta o ortodontista.
O tratamento ortodôntico traz beleza ao sorriso e à face, mas também possibilita muitos ganhos funcionais, entre eles: eliminação de dores, maior eficiência mastigatória, melhora das condições bucais para a realização de outras intervenções odontológicas, como colocação de implantes e próteses, além do equilíbrio das estruturas que compõe o sistema mastigatório, poupando, assim, as articulações têmporo-mandibulares e a musculatura da mastigação.
No que diz respeito à estética, só o próprio paciente pode julgar se a sua queixa é importante o suficiente a ponto de levá-lo a procurar ajuda. Afinal, atualmente a população está muito exigente, não só em relação à beleza do sorriso, mas do corpo de maneira geral. O que explica também o crescente aumento do número de pacientes que procuram as mais diversas cirurgias plásticas, a endocrinologia e a dermatologia. Por isso, o especialista defende a indicação do aparelho dentário mesmo em casos simplesmente estéticos.
"A odontologia sempre esteve intimamente envolvida com a estética. Existem trabalhos mostrando que o sorriso é o fator mais importante quando leigos julgam a beleza de um rosto. Então por que não dar essa satisfação ao paciente quando nos procura? Cada um sabe o que incomoda e o que gostaria de mudar. Se a ortodontia pode ajudá-lo, de alguma forma, a ter o sorriso que deseja, mesmo que seja um problema pequeno, acho que a pessoa merece toda a atenção do profissional", comenta o especialista.
Em nome da estética, também foram criados aparelhos com materiais de mesma cor dos dentes, bem mais discretos que os tradicionais metálicos. "Existe um público diferente para cada produto. A indústria de material ortodôntico, que está sempre atenta às necessidades dos profissionais e da população, iniciou o desenvolvimento de bráquetes estéticos na década de 80. Tendo em vista, justamente, os pacientes adultos que começaram a frequentar os nossos consultórios", diz o ortodontista.
Os primeiros eram feitos com policarbonato, uma espécie de plástico, mas apresentavam muitos problemas de deformação e manchas. Depois, vieram os bráquetes mistos de porcelana e policarbonato e os de porcelana pura. E, mais recentemente, apareceram os mais estéticos de todos, os de porcelana pura monocristalina, chamados de cristal de safira, que são totalmente transparentes. É lógico que cada um tem seu custo e eficiência e Ricardo Cruz ressalta que os bráquetes metálicos ainda são a maioria nos consultórios.
"As propriedades físicas são superiores à porcelana, portanto sua eficácia é maior. Eles são os bráquetes de escolha em crianças e adolescentes, por serem mais resistentes e por darem a oportunidade ao profissional de utilizar elásticos coloridos, sem dúvida um estímulo a mais no tratamento. Existem alguns trabalhos científicos que procuraram julgar a opinião de leigos adultos em relação ao aspecto dos aparelhos metálicos e estéticos, e os resultados surpreenderam, pois, ao contrário do que se esperava, os bráquetes estéticos não foram unanimidade", afirma o profissional.
A indústria de material ortodôntico lança inúmeras novidades a cada ano e, recentemente, surgiram três grandes inovações que vieram a contribuir muito para a ortodontia: uma na área de diagnóstico, outra na área da mecânica ortodôntica e outra na área de sistemas de tratamento. Foram desenvolvidas tomografias tridimensionais, capazes de gerar imagens muito mais perfeitas das estruturas do crânio e da face, trazendo maior precisão ao diagnóstico e ao plano de tratamento em cada caso.
No campo da mecânica, com o objetivo de facilitar a movimentação ortodôntica ou, em alguns casos, substituir o uso dos aparelhos externos, chamados de "freios de burro", surgiu um novo sistema onde mini-implantes ou mini-placas de titânio são fixados nas arcadas dentárias do paciente, em procedimentos cirúrgicos simples.
Quanto aos sistemas de tratamento, surgiram aparelhos removíveis eficientes para alinhar e nivelar os dentes sem que seja necessário o uso de bráquetes. São alinhadores confeccionados com material transparente, que o paciente deve usar por cerca de 20 horas ao dia. Além disso, o especialista adianta que, em pouco tempo, chegará ao Brasil outra novidade: um aparelho com bráquetes personalizados e colocados na parte de trás dos dentes.
"Muitas outras inovações continuam a ser criadas e testadas, sempre com amplo embasamento científico, pois assim é que a ciência se desenvolve. A ortodontia do futuro, com certeza, será bem diferente da atual, isso sem mencionar as novas descobertas na área da genética, que, sem dúvida, também irão revolucionar os processos de diagnóstico e tratamento ortodôntico", explica Ricardo.
Os adultos foram, talvez, os pacientes que mais se beneficiaram com os avanços tecnológicos da área. Não existe mais idade limite para tratamento ortodôntico, tendo uma boa saúde geral e bucal, qualquer pessoa pode se submeter a ele. Nas décadas de 60 a 80, a ortodontia tratava somente um público restrito, dos 12 aos 15 anos de idade.
Mas o tratamento em adultos possui particularidades: perdas dentárias indesejadas, presença de próteses e implantes que podem dificultar a movimentação dentária requerida e maior risco de problemas periodontais. Uma realidade totalmente diferente que, segundo Ricardo Cruz, exige do profissional uma abordagem diversa daquela dada às crianças.
"Costumo dizer que o adulto é mais impaciente e quer resolver seu problema da forma mais rápida e mais simples. E, por outro lado, é capaz de colaborar muito mais com o tratamento proposto e também possui uma higienização bucal muito melhor que as crianças. Frequentemente, o ortodontista precisa atuar como um psicólogo para estimular o adulto a seguir com o tratamento até o fim".
Contudo, sem dúvida, há hoje uma maior aceitação dos aparelhos no ponto de vista social. Principalmente no Brasil, as pessoas se acostumaram a ver adultos com aparelhos dentários, o que, de acordo com o especialista, ainda não ocorre em outros lugares do mundo. "Tenho pacientes que se mudam para outros países, onde a ortodontia não é tão avançada e se queixam de que são vistos com estranheza nas ruas", conta.
Com a considerável redução do preço do tratamento, um número maior de pessoas têm acesso. O aparelho se popularizou e já virou até status usá-lo. "Talvez nas classes C, D e E isso possa ocorrer, mas acredito que pela grande quantidade de pacientes em tratamento nessa faixa da população, a tendência é que diminua cada vez mais esse simbolismo", afirma o ortodontista.
Para ele, nas classes A e B o aparelho dentário representa a preocupação com o bem-estar e com a qualidade de vida em longo prazo. "Uma pessoa que se cuida é vista com melhores olhos pela sociedade do que outra desleixada, que teria condições econômicas para fazê-lo, mas prefere investir em outros bens materiais ao invés de investir na própria saúde", comenta.
E os benefícios do tratamento odontológico realmente são muitos. Se um indivíduo tem uma boa oclusão, ele mastiga bem, se alimenta melhor, tem mais facilidade para a digestão, respira melhor, dorme bem, tem menos possibilidade de apresentar problemas de coluna, e isso tudo acarreta em uma vida mais saudável. Segundo o especialista, o aspecto psicológico também é fundamental, um paciente com um belo sorriso tem uma autoestima muito maior, o que influencia diretamente na vida pessoal e profissional.
"O apelo da mídia é muito grande, sempre correlacionando a beleza como fator importante para o sucesso de um indivíduo. A toda hora, nos deparamos com fotos de modelos e artistas bem-sucedidos com belos corpos, rostos e um sorriso exuberante. Quem não quer um sorriso daqueles? Um paciente que se olha no espelho e percebe que não se encaixa nos padrões de beleza estabelecidos, que têm vergonha de seus dentes ou que não consegue mastigar direito, tende a se tornar mais introvertido e avesso ao contato social", diz o especialista.
A vida pode seguir normalmente com o uso dos aparelhos. Apenas alguns cuidados básicos devem ser tomados como, por exemplo: uma boa higiene oral, evitar alguns tipos de alimentos duros e pegajosos que possam danificar os bráquetes e retardar a correção. Mas o profissional garante que não são muitos os sacrifícios.
"O paciente terá que se acostumar a usar, além da escova e pasta de dentes, um fio dental especial para passar por baixo do fio ortodôntico, uma escova interdental para limpeza das áreas mais difíceis e com o hábito de fazer bochechos diários com flúor para evitar lesões de cárie ou manchas brancas. E na alimentação, deve evitar coisas, que eu diria supérfluas, como pipoca, rapadura, quebra-queixo, balas pegajosas, castanhas ou amêndoas", aconselha o profissional.
Muitas pessoas têm dúvida sobre as diferenças no tratamento com aparelhos fixos ou móveis. Por muito tempo, as duas técnicas estiveram separadas no mundo inteiro e somente após as décadas de 70 e 80 houve uma interação entre elas. Os aparelhos fixos tradicionais foram criados por Edward Angle nos Estados Unidos, no início do século passado, e então surgiu a ortodontia. Os aparelhos removíveis foram inicialmente desenvolvidos na Europa, mais ou menos na mesma época, e foi dado à técnica o nome de ortopedia funcional. Ricardo Cruz explica que essa divisão entre os aparelhos não se justifica mais.
"Tem origem na própria história de como ambos apareceram. No fundo, os dois são recursos que o profissional tem à sua disposição para tratar os problemas de oclusão em cada caso. Os aparelhos ortodônticos fixos são indicados para movimentação dentária e os aparelhos ortopédicos, removíveis ou não, são indicados para movimentação óssea, ou seja, indicados para pacientes em crescimento, onde se deseja redirecionar um padrão de crescimento desfavorável. Existem aparelhos removíveis usados para movimentação dentária, mas são mais limitados quando comparados ao sistema tradicional".
Ninguém pode dizer que usar aparelho seja agradável. Há problemas de adaptação, contornados com maior ou menor dificuldade, limitações na dieta e todas as implicações inerentes ao próprio tratamento, como a necessidade de uma higiene oral mais rigorosa e de consultas periódicas para ajustes no aparelho, durante um tempo relativamente longo. "O que podemos dizer é que, se houver a necessidade de corrigir a arcada dentária, o paciente deve encarar o tratamento como qualquer outro na área de saúde que se tivesse que realizar", acrescenta e conclui o presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial.
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