Atenção aos riscos do uso de jaleco nas ruas
A Organização Mundial da Saúde reitera que a utilização do jaleco deve ser restrita ao local de trabalho, pois a prática pode trazer bactérias dos hospitais para a comunidade
O jaleco deveria ser um acessório de uso exclusivo nas unidades de saúde. Apesar disso, nas ruas, bares e restaurantes próximos aos hospitais, o que mais se vê são médicos e enfermeiros desfilando com a vestimenta de trabalho. A prática traz o risco do transporte de micro-organismos, levando bactérias diferenciadas para o meio externo.
A questão ainda não é um consenso entre os profissionais da saúde, mas é uma orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirma que a utilização do jaleco deve ser restrita ao local de trabalho. A médica infectologista Terezinha Leão explica que o avental protege justamente o profissional, do ambiente insalubre que é o hospital. Ali estão bactérias multirresistentes, isto é, que poucos antibióticos funcionam contra elas e que são muito mais raras na comunidade.
"A fim de preservar a saúde do profissional é que ele veste um jaleco enquanto está sob risco de se expor a esses germes. Saindo do hospital, o avental deve ser rapidamente guardado em um saco plástico, de preferência, para evitar que suje e que outras pessoas menos avisadas possam se expor a um risco desnecessário, em contato com essa flora bacteriana hospitalar", explica a médica.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o risco de infecções transmitidas por bactérias nos jalecos é muito maior no sentido do hospital para a comunidade. Mesmo assim, não há uma higienização específica e adequada nos aventais. "Cada um leva o seu para casa e lava como bem entender. Não é rotina que os jalecos de trabalho sejam lavados nos hospitais, onde eles seriam desinfetados", conta a infectologista.
Os germes são uma ameaça principalmente para pessoas que tomam antibióticos demais e passam a ser colonizadas por uma flora diferente, mais resistente aos antibióticos comuns. Não sei se é do conhecimento de todos, mas já existe nos hospitais bactérias resistentes a todos os antibióticos do mercado. Havendo uma infecção, voltamos à era pré-penicilina, onde se tratava as pessoas com colutórios, bismuto, chás medicinais e outras panacéias", acrescenta Terezinha Leão.
Todas as pessoas são colonizadas por uma flora normal de bactérias, seja na pele, na garganta ou no intestino, que não causa dano nenhum quando em equilíbrio. Portanto, os jalecos levam germes que já aprenderam a ser mais resistentes para colonizar indivíduos que ainda não estão doentes. "A partir desse contato, se por algum motivo a pessoa depois precisar se internar em um hospital, fazer alguma cirurgia, tratamento dentário ou se tiver alguma infecção banal, pode não ser tão simples assim. A infecção tende a ser bem mais grave", alerta a especialista.
Para a doutora, a utilização indevida da vestimenta deve-se muitas vezes à pressa, pois os profissionais saem correndo de um emprego para o outro e, muitas vezes, não têm tempo de tirar o avental. "Por exemplo, aqui em Curitiba, onde eu trabalho, é muito frio. Você tira o casaco, coloca o jaleco para trabalhar e fica bem quentinho. Tirar o jaleco para fazer um lanche na esquina é incômodo. Os motivos são os mais diversos, mas nada justifica a falta de higiene", afirma.
Uma das maiores dificuldades do controle das infecções hospitalares é convencer a todos da importância de medidas simples, como a limpeza das mãos e os cuidados com o uniforme na prevenção de doenças graves. A infectologista, que trabalha há 25 anos com o treinamento de profissionais da saúde, tenta conscientizar os companheiros da necessidade da higienização. "Sempre escapa um, que não ouviu direito a aula, ou que não se convenceu da importância dessa medida básica. É importante lembrar que a corrente tem a força no seu elo mais fraco, basta apenas um romper a corrente, que se quebra a cadeia do controle das infecções hospitalares".
Espírito Santo, Paraná e Rio de Janeiro são alguns estados que já proibiram o uso dos jalecos fora do ambiente hospitalar, e quem infringir a norma terá que pagar uma multa em dinheiro. Projetos de lei neste sentido também existem no estado de São Paulo e na Bahia. "Não fui eu que inventei a lei, mas achei muito boa. Creio que, agora que há multa por sair com os aventais para a rua, talvez as pessoas percebam o tamanho da importância desta medida", conclui a doutora.
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