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Gabriel, o Pensador: "Como as músicas me influenciaram muito em tudo, eu sei que também influencio quem escuta ou lê o que eu escrevo hoje em dia." (Entrevista)

Em entrevista para o Saude, Gabriel o Pensador fala um pouco sobre sua vida, seu sucesso na música e, é claro, saúde

Aos 27 anos de idade, Gabriel o Pensador supera as antigas previsões de que seria apenas um fenômeno passageiro da mídia, partindo para novas conquistas e influenciando os jovens de todo o Brasil. Gabriel continua alertando a população sobre os problemas sociais e políticos do país, compondo músicas e até mesmo escrevendo um livro, lançado com o título de Diário Noturno.

Em entrevista exclusiva ao Portal Saúde, o Pensador fala sobre suas músicas, sobre seus amigos na favela da Rocinha e o que pensa em relação aos problemas da saúde, da educação e da política brasileiras. Confira também como o Pensador cuida de sua saúde e quem é o "Gabriel surfista", que equilibra seu lado intelectual.

 

A música que inicialmente te consagrou foi “Tô feliz (matei o presidente)”. Você criticava o governo Collor ao mesmo tempo em que sua mãe (a jornalista Belisa Ribeiro) trabalhava para o presidente. Como foi essa experiência?

Gabriel o Pensador: Ela tinha trabalhado antes na campanha do Collor, e ali naquela altura já estava "brigada" com o governo, mas nada disso me influenciou na hora de fazer a música. O assunto da corrupção no governo federal era apenas mais um que virou música na época em que tudo que me incomodava virava uma letra de rap. Escolhi esta música para gravar primeiro na fita demo porque era um tema que não poderia esperar. Ela tocou numa rádio do Rio e chegou a ser a mais pedida, antes de ser censurada, cinco dias depois, pelo ministro da justiça (o Collor ainda estava no poder).

 

Você foi criado em um ambiente privilegiado, sem roblemas financeiros, estudando em uma universidade particular. As letras das suas músicas, no entanto, demonstram uma grande preocupação em relação à pobreza e à injustiça social. Quais foram os fatores que fizeram com que você tivesse essa visão crítica da sociedade?

Gabriel o Pensador: Nasci num ambiente de classe média muito simples, cresci e fui educado durante o progresso financeiro da minha mãe com seu sucesso como jornalista, o que fez com que eu pudesse morar em vários bairros do Rio e conhecer realidades um pouquinho diferentes também desde a infância. Mas foi por volta dos meus doze anos que conheci melhor a favela, quando fomos pra São Conrado e eu comecei a surfar e andar de skate com amigos da Rocinha. Com certeza aprendi muito nessa época, sobre preconceito racial e social, por exemplo, andando nos shoppings com o meu melhor amigo ou sendo "barrado" na porta por estar de chinelo, só pra não dizerem que era pela aparência do cara. Muitas lições positivas de amizade e de honestidade que eu via dentro do morro também evitaram que eu tivesse qualquer tipo de imagem equivocada do que é um "favelado", como muita gente do "asfalto" acaba criando. Mas, além disso tudo, a educação que tive dos meus pais e da minha família já deve ter me preparado de alguma forma pra eu ver as coisas do jeito que eu vejo. E a própria música, do Bob Marley ao rap em geral, passando por várias outras coisas, também me inspirou muito na formação dos meus ideais na adolescência.

 

De que forma você pretende influenciar os jovens brasileiros, e o que pode ser feito para modificar as concepções de pobreza, corrupção e racismo no Brasil?

GP: Como as músicas me influenciaram muito em tudo, eu sei que também influencio quem escuta ou lê o que eu escrevo hoje em dia. E desde o primeiro CD tive a confirmação disso nas cartas que recebia dos fãs de várias idades, realmente interessados no que eu tinha pra dizer, e motivados a pensar e dizer o que pensavam também. Assim, as ideias vão sendo discutidas, outras coisas vão sendo denunciadas e criticadas numa linguagem fácil e interessante para os jovens (e não só os jovens), e pelo menos sinto que estou despertando alguma coisa na cabeça de muita gente. E como eu digo na letra de "Até quando?", a gente muda o mundo na mudança da mente / e quando a mente muda a gente anda pra frente / e quando a gente manda ninguém manda na gente. A partir daí, o que pode ser feito? Muita coisa! Tem as ONGs, que estão crescendo cada vez mais como uma forma eficaz de participar da vida social do país, tem o voto, e sobre a importância dele eu tenho falado cada vez mais, estimulando as pessoas a continuar acreditando que nem todos os políticos são iguais, porque se encararmos assim estaremos sendo covardes ou burros. E não podemos fugir da responsabilidade de nos informar para votar com consciência. E tem também os pequenos gestos do dia a dia, que fazem muita diferença, e a postura positiva diante da vida e do próximo, que eu não deixo de incentivar com o meu trabalho, até inconscientemente.

 

Qual é a sua opinião em relação aos problemas do sistema de saúde brasileiro?

GP: A revolta é de saber que o país tem dinheiro suficiente pra saúde e pra educação, mas essa grana toda é desviada e roubada sem parar, em volumes monstruosos e assassinos, muito mais do que a gente pensa, em cada canto do Brasil, em prefeituras, câmaras de vereadores de milhares de cidadezinhas, câmaras de deputados estaduais e federais cheias de ladrões, no senado, nos governos dos estados e em tantas áreas podres dos poderes executivo e judiciário brasileiros. Só o dinheiro do TRT do Lalau já dá uma ideia da dimensão do rombo que a corrupção provoca. E cadê a punição para todos eles? Não tem. É por isso que a gente não tem saúde nem educação pública de verdade nesse país.

 

Você tem alguma rotina específica de composições e shows? O que muda na sua vida durante a época de shows?

GP: Não tenho rotina de horário específica em época nenhuma, mas quando estou em estúdio é que podemos dizer que seja uma espécie de regime semi-aberto de trabalho, pois eu acordo e corro pro estúdio e só volto pra casa quando não aguentamos mais fazer nada e aí desabo na cama pra acordar e correr pra lá de novo. Acaba sendo uma rotina, só que temporária. Nessa época costumo parar de fazer shows ou diminuir muito a quantidade.

 

Você lançou um livro, Diário Noturno, uma espécie de biografia a partir de textos que você escreveu desde os tempos de colégio. Como é a convivência entre o seu lado "intelectual" (pensador, poeta e compositor) e "esportivo" (surfista)?

GP: O surfe me ajuda a evitar o estresse mental, serve para equilibrar a minha ansiedade de querer sempre estar pensando e criando com a minha necessidade de respirar um pouco, fora dessa loucura toda, que toma conta da minha cabeça, se eu não tomar cuidado e me provoca até insônia. Daí o nome Diário Noturno. Mas até mesmo pelo horário louco e pelas madrugadas em claro escrevendo ou compondo, eu consigo me dedicar melhor ao surfe quando faço uma viagem de férias especialmente para isso. Aí é o bicho. Eu volto renovado e começa tudo de novo. Mas tento manter um pouco a forma na medida do possível, dependendo da fase, nadando ou surfando aqui no Rio também.

 

Quais os cuidados que você tem com a sua saúde?

GP: Fora o nado e o surfe, que são irregulares mas são o meu único exercício físico além dos shows, não como nada de carne vermelha há mais de seis anos e evitamos comida muito engordurada pelo menos em casa. Não fumo e não bebo álcool quase nunca, o que também acaba ajudando. Por isso ninguém acredita quando eu digo que tenho 47 anos (risos).

* Esta ferramenta não fornece aconselhamento médico. Destina-se apenas a fins informativos gerais, não pretende concluir nenhum diagnóstico e não aborda circunstâncias individuais. Não é um substituto do aconselhamento ou acompanhamento de profissionais da saúde. Alertamos que o diagnóstico e o tratamento não devem ser baseados neste site para tomar decisões sobre sua saúde. Jamais ignore o conselho médico profissional por algo que leu no www.saude.com.br. Se tiver uma emergência médica, ligue imediatamente para o seu médico.

Esta matéria pertence ao acervo do saude.com.br

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